A2.0 E IAPA CONCLUEM AÇÕES DE MONITORAMENTO COMUNITÁRIO NO PARQUE ESTADUAL CHANDLESS

As ações de monitoramento de base comunitária implementadas pelos projetos regionais Amazônia 2.0 (A2.0) e Integração das Áreas Protegidas do Bioma da Amazônia (IAPA) no Parque Estadual Chandless, no estado do Acre, chegaram ao fim após 6 meses de coleta.

O monitoramento acontece no âmbito da sinergia entre os projetos citados com o Programa Nacional de Monitoramento da Biodiversidade (MONITORA), executado no Parque Chandless pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Políticas Indígenas do Acre (SEMAPI-AC), por meio do financiamento do Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA).

O principal objetivo do programa é monitorar as condições da biodiversidade no interior das áreas naturais protegidas, observando principalmente grupos taxonômicos indicadores relevantes para orientar as decisões sobre ações preventivas e mitigadoras dos efeitos das mudanças climáticas. O Parque Chandless soma quatro anos de amostragem de três alvos considerados de rápida resposta e fácil amostragem: borboletas frugívoras, mamíferos diurnos e aves cinegéticas, e desde junho de 2021, com o aporte dos projetos A2.0 e IAPA, juntaram-se aos alvos de monitoramento as árvores lenhosas, pressões e ameaças e de recursos pesqueiros.

Luiz Henrique Medeiros Borges, coordenador do Monitora no Chandless desde 2017 afirma que a integração das iniciativas apontou para desenhos amostrais, coleta e gestão de dados mais robustos. Além disso, otimizou o esforço logístico e operacional de se chegar a áreas isoladas do Parque, localizado na fronteira entre o Brasil e Peru, com mais de 690 mil hectares, o que representa uma área com cerca de 4% do território acreano.

Ações realizadas e resultados encontrados

Como ação preparatória ao monitoramento foi realizado um Curso de Capacitação para 10 monitores (entre eles três mulheres), selecionados(as). O curso foi realizado em junho e teve como foco a capacitação dos monitores e incluiu aulas teóricas sobre o uso dos aplicativos Field Task (utilizado pelo A2.0), Ictio (priorizado pelo IAPA) e práticas em campo com a simulação dos monitoramentos.

 

Curso de Capacitação em Monitoramento Territorial Comunitário. Foto: Foto: Luana Alencar, 2021

Quanto aos dados levantados, no âmbito do MONITORA, os alvos mamíferos diurnos e aves cinegéticas são considerados cruciais, pois estes grupos são suscetíveis a ameaças como a perda e degradação do habitat, pressão de caça, e do mesmo modo, às mudanças climáticas. Ao todo foram registradas 26 espécies de mamíferos diurnos e 17 espécies de aves cinegéticas. Dados similares a estudos realizados anteriormente, indicam que o Parque Chandless exerce com êxito seu papel para conservação do grupo, protegendo inclusive espécies consideradas vulneráveis à ameaça de extinção.

O alvo borboletas frugívoras é o que apresenta resposta imediata às mudanças mais sutis no ambiente, sejam elas alterações na cobertura vegetal, desmatamento, variações sazonais por consequência às mudanças climáticas, que geram respostas sobre as tribos (organização taxonômica entre famílias e gêneros) de borboletas amostradas. Neste caso, no Parque Chandless foram registradas todas as 13 tribos de borboletas que tem ocorrência prevista na localidade, retratando a alta diversidade de grupos locais, um reflexo do habitat heterogêneo e bem conservado da Unidade de Conservação como um todo.

Quanto à estrutura da vegetação, referente ao alvo plantas lenhosas, ao todo foram amostradas 718 indivíduos lenhosos de três formas de vida (lianas, palmeiras e árvores) em três unidades amostrais com (1) florestas de terra firme sob efeito de ambiente aluvial, (2) sob relevo local caracterizado por área de baixio, predominada por sororocas (Marantacea) no sub-bosque e com a presença de tabocas (bambus do gênero Guadua sp.) e com poucas árvores grandes; e (3) com sinais adjacentes de manchas de taboca e marcada pela predominância local de palmeiras diversas (incluindo Jarina: Phytelephas spp.), indicando um processo de sucessão marcado por distúrbio recente e/ou de características ambientais locais (i.e. relevo local, textura do solo e propriedades químicas do solo).

Em média, com base nas parcelas permanentes amostradas, a densidade de árvores é de 598 indivíduos por hectare, demostrando que a densidade absoluta e o estoque de Carbono (com área basal e densidade absoluta como um indicador), respectivamente, no Parque são 38% e 40% maior do que observações da literatura local. Estima-se que cada uma dessas florestas, “absorvem” em média, cerca de 250 mg C ha-1, e entre, 150-250 toneladas de carbono por hectare, indicando uma região de alta produtividade e relevante sumidouro de carbono.

A segunda ação de monitoramento de biodiversidade trata dos recursos pesqueiros do projeto IAPA, mais especificamente o monitoramento dos grandes bagres. As atividades tiveram o pontapé inicial em 2018 com reuniões e capacitações. Foram realizadas reuniões institucionais para estabelecimento dos acordos de cooperação como principais marcos regulatórios da iniciativa. Recentemente, novas capacitações e o treinamento do uso da plataforma digital Ictio, além da disponibilização de smartphones impulsionaram as ações de monitoramento dos recursos pesqueiros no Parque Estadual Chandless. Ao todo, considerando os registros obtidos desde 2018, são acumulados 160 registros de pesca dos moradores, ótimos resultados quando avaliamos as condições de isolamento, acesso limitado à internet e desafios inerentes ao à rotina de monitoramento. Além disso, o monitoramento de biodiversidade no Parque é executado por jovens monitores e mulheres que tomaram posse dos processos de vigilância e gestão territorial.

Monitoramento de bagres e pressões e ameaças. Foto: Luana Alencar, 2021

Finalmente, em relação ao monitoramento de pressões e ameaças no âmbito das ações de vigilância territorial do A2.0, com seis meses de monitoramento 11 situações foram constatadas pelos monitores locais enfatizando os primeiros levantamentos do projeto que já indicavam por pressões de caça e pesca ilegal, invasão de território e retirada predatória de ovos de tracajá (Podocnemis unifilis).

Monitoramento de bagres e pressões e ameaças. Foto: Luiz Henrique Medeiros Borges, 2021

O intuito dessa integração sempre foi fortalecer as ações de monitoramento participativo no Parque: valorizar o papel dos monitores, da ciência cidadã, ampliar a área de cobertura do monitoramento e a partir dos dados e informações gerados - de primeira-mão pela população local - contribuir para o fortalecimento da governança do Parque; orientando, por sua vez, a tomada de decisão pelos órgãos públicos competentes, tanto de gestão quanto e fiscalização, e para uma maior participação da comunidade local em processos de governança do Parque”, enfatiza Carolle Alarcon, coordenadora técnica do projeto A2.0 no Brasil. 

Walter Cano, coordenador Técnico do projeto IAPA complementa ainda que “na região do Purus, tanto do lado brasileiro quanto do peruano, a pesca representa um importante complemento para a subsistência de um grande contingente de populações ribeirinhas que dependem dos recursos hidrobiológicos do rio Purus. Entre essas populações encontram-se mais de 7 etnias indígenas que, por meio de acordos de manejo compartilhado de bagres de grande porte com as chefias das áreas protegidas Parque Nacional do Alto Purus (no Brasil) e Reserva Comunal Purus (no Peru), esperam garantir o uso sustentável dos recursos de uso ancestral. Por sua vez, as chefias acima mencionadas esperam chegar a acordos de gestão compartilhada com sua contraparte do Parque Chandless, para alcançar uma visão transfronteiriça de gestão compartilhada de grandes bagres de amplo benefício para as populações locais e para a conservação.”

Os resultados apresentados revelam que ações de monitoramento e fortalecimento da gestão territorial em áreas naturais protegias trazem ganhos relevantes para conservação da biodiversidade e da subsistência das populações locais. No entanto, é relevante a continuidade das ações, pois a prática de monitorar e registrar deve ser constantemente fomentada. A administração do Parque Estadual Chandless comprometeu-se a continuar monitorando as pressões e ameaças no âmbito do Programa Monitora. Além disso, o resultado do trabalho será formalmente apresentado à SEMAPI-AC no início de dezembro e os dados de monitoramento estarão disponíveis no GeoVisor, ferramenta dinâmica e integradora que articula as informações coletadas em cada uma das áreas de intervenção do projeto A2.0, como resultado do longo processo de capacitação local e implementação do monitoramento comunitário.